sábado, 22 de novembro de 2025

4º. Motivo da rosa





Cecília Meireles




Não te aflijas com a pétala que voa:

também é ser, deixar de ser assim.


Rosas verá, só de cinzas franzida,

mortas, intactas pelo teu jardim.


Eu deixo aroma até nos meus espinhos

ao longe, o vento vai falando de mim.


E por perder-me é que vão me lembrando,

por desfolhar-me é que não tenho fim.

sexta-feira, 21 de novembro de 2025

Nudez

 






Rodolfo Pamplona Filho


Sabe o que descobri?


Você é o único que


consegue me enxergar...


O amor verdadeiro remove as


membranas que fecham os olhos


e apenas você...


consegue me ver nua...


e que nada mais pode me quebrar...




E me viu nua...


sem tirar uma peça sequer de roupa...


E me viu nua...


sem expor parte alguma de meu corpo...


E me viu nua...


no dia em que olhou em meus olhos...


e viu além de qualquer casca...


E me viu nua...


no dia em que conheceu minha alma


e soube exatamente quem eu era...


e permiti tão íntima ligação


por não carecer de resistência...


por não precisar mais me esconder...


por acreditar em nós...




E eu descubro em você


o que pensei


somente existir em sonhos...


mas sonhos somente são possíveis


se estamos vivos...


sonhos somente existem


se há vida e desejo...


sonhos somente se realizam


na nudez da alma...




São Paulo, 07 de outubro de 2010.

quinta-feira, 20 de novembro de 2025

Canção do Exílio

 

 







Murilo Mendes




Minha terra tem macieiras da Califórnia

onde cantam gaturamos de Veneza.

Os poetas da minha terra

são pretos que vivem em torres de ametista,

os sargentos do exército são monistas, cubistas,

os filósofos são polacos vendendo a prestações.

A gente não pode dormir

com os oradores e os pernilongos.

Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.

Eu morro sufocado

em terra estrangeira.

Nossas flores são mais bonitas

nossas frutas mais gostosas

mas custam cem mil réis a dúzia.



Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade

e ouvir um sabiá com certidão de idade!


In: MENDES, Murilo. Poesias, 1925/1955. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1959


quarta-feira, 19 de novembro de 2025

Sozinho na Multidão

 






Rodolfo Pamplona Filho




A pior solidão é

ficar sozinho na multidão,

esperando em pé

um pouco de atenção

de quem compartilha a fé

ou a promessa do coração.


Não sei se é trágico

ou simplesmente irônico,

mas é quase mágico,

diria icônico,

quando sua presença é reclamada,

mas, na verdade, ignorada...


Um dia, eu gritarei

e ouça quem quiser.

Direi tudo que sei

sobre a tristeza que vier:

não há dor maior ou lama

que ser ignorado por quem se ama.


Salvador, 06 de outubro de 2010.

terça-feira, 18 de novembro de 2025

Pré-história

 



Murilo Mendes




Mamãe vestida de rendas

Tocava piano no caos.

Uma noite abriu as asas

Cansada de tanto som,

Equilibrou-se no azul,

De tonta não mais olhou

Para mim, para ninguém!

Cai no álbum de retratos.


segunda-feira, 17 de novembro de 2025

Desnuda

 






 (Negra Luz)




A poesia não me permite conter me em segredos.

Ela sussurra, através dos meus versos, o que não escrevi:

Traduz em onomatopeias meus sentimentos,

Cochicha pelas entrelinhas, expõe me nos acentos,

Quando findo uma estrofe, ela ainda fala por mim.

Um delatora camuflada por metáforas e rimas,

Revela a métrica do que escrevo e, quando menos espero,

Me vejo desnuda diante de ti:

Meu leitor, minha leitora.


domingo, 16 de novembro de 2025

Desilusão

 






Rodolfo Pamplona Filho




A gente pensa  

que o emprego sempre estará lá, 

que conseguirá se desdobrar, 

que a saúde sempre estará boa 

que a vida será longa... 



A gente pensa  

que tudo vai dar certo 

que sempre estará perto 

que será sempre esperto 

que nunca ficará descoberto  



A gente pensa  

que vai viver eternamente, 

que a dor não é permanente, 

que nossos pais nunca faltarão 

até o dia da desilusão... 


 


Salvador, 05 de fevereiro de 2021. 

sábado, 15 de novembro de 2025

Sim, tudo








(Negra Luz)



Tudo estalo.

Tudo audiência.

Tudo click.

Tudo emoji.

Tudo Bauman.

Tudo calefação.

Tudo João!

Tudo George!

Tudo Miguel!

Tudo triste.

Tudo “migué”.

Tudo RACISMO.





sexta-feira, 14 de novembro de 2025

Psicóloga de Botequim

 





Rodolfo Pamplona Filho


Muitas vezes, precisamos ouvir

o que parece óbvio

aos olhos dos outros,

mas ainda não foi

internalizado no coração...

Aprender a escutar

e a baixar a sua bola

pode ser um bom caminho

para se redescobrir

e um novo caminho seguir...

Por isso, agradeça a quem

ousa dar a sua visão

sobre problemas que

não parecem ter fim

e nunca despreze

a sua psicóloga de botequim...


 


Salvador, 06 de janeiro de 2021.

quinta-feira, 13 de novembro de 2025

Seja e esteja Feliz!

 





Paulo Basílio - 01/08/2020



Hoje, quero mais é ser,

Ser humano,

Ser pessoa.

Importar menos com coisa.



Cansado que querer

Ter e continuar a manter

Mesmo que só na aparência,

Tranquilidade na sobrevivência.



Ser e estar.

Não tem melhor solução.

Ser feliz e estar contente.



Ter isto na mente

E no nosso coração.

Sempre seja e esteja.






quarta-feira, 12 de novembro de 2025

Amor em Você







Rodolfo Pamplona Filho



Eu descobri amor em você

e isso transformou a minha tristeza

em profunda esperança



Eu descobri amor em você

e isso converteu a minha descrença

em um retorno para a fé



Eu descobri amor em você

e isso me mostrou

que há sempre outro caminho



Eu descobri amor em você

e isso renovou o desejo

de, um dia, ser feliz


 


Salvador, 08 de janeiro de 2021.

terça-feira, 11 de novembro de 2025

O que me atrai

 




 (Negra Luz)



Olhos... que não me acuam em padrões, 

Que me enxergam inteira,

Que me desnudam vestida.

Viril!




Boca... que não deprecia ninguém,

Que dialoga com paz,

Que beija como vento.

Lindo!




Mãos... que não violentam,

Que trabalham e buscam sonhos,

Que abraçam me acolhendo.

Gostoso!




Ombros... que não me oprimem,

Que estejam ao lado,

Que estejam disponíveis pertinho de mim.

Safado!




Peitos... que não inflem, subjugando-me,

Que compartilhem suas vitórias,

Que construam comigo as trilhas de si.

Muralha!




Barriga... que não se esqueça o que é vida,

Que não conte as minhas estrias,

Que entenda as entrelinhas em mim.

Sedutor!




Falo... que não ande por aí desprotegido,

Que quando esteja comigo,

Que seja entrega de dois.

Voraz!




Bumbum... que não sente e espere,

Que não me pare, nem me acelere,

Que deixe no meu ritmo seguir.

Sagaz!




Pernas... que não chutem-se o balde, me esquecendo,

Que sejam fortes e parceiras,

Que ergam corpo e sonhos.

Perspicaz!




Pés... que não se percam em qualquer vento,

Que sigam suas próprias rotas,

Que também confluam para mim,

Próspero.




Esse é o homem que eu desejo inteiro,

Que, inteira, miro os seus beijos,

Que quero na vida, na cama,

Ao lado de mim!





segunda-feira, 10 de novembro de 2025

Sobre a Caminhada

 





Rodolfo Pamplona Filho



Para fazer qualquer caminhada,

é evidente que se precisa

dar o primeiro passo,

mas, depois do passo dado,

a ansiedade pelo resultado

aflige tanto quanto

ainda não ter começado...

 


Salvador, 4 de janeiro de 2021.

domingo, 9 de novembro de 2025

Oásis

 





(Negra Luz)




Quando a minha sede não encontrava os olhos d’água 

Que sempre saciavam meu coração

Ou tão secas as almas

Sem que houvesse ninguém 

Para a dança da chuva aventurar

Ou se, só, quisesse ouvir A Banda e passar

Sem me olharem como um disco velho que nunca emplacou

Era você que se apresentava

Toda a seca, por um instante, se convertia em ilusão

Havia coqueiros

Rio fluindo

Roupa encharcada

Eu na beira do mar

Acalmava-se meu furacão

Nimbus se dissipavam

Enxergava outras estradas

Em vicinais, achava bicas onde molhava o rosto

Bebia um gole d’agua fazendo de concha a mão 

E muito do que me faltava 

Por você, poesia, me fartava 

Um oásis para minha emoção

sábado, 8 de novembro de 2025

Papéis na vida

 


 



Rodolfo Pamplona Filho



Cada pessoa precisa entender

o seu papel em sua vida.

Há quem nasça para protagonista

e há quem seja coadjuvante...

Mas quem é apenas figurante

também é a estrela principal

da sua própria história.

Descobrir o papel que lhe é reservado

neste imenso palco sagrado

pode ser a diferença entre ser

consciente e conformado,

resolvido e revoltado,

vitorioso e derrotado.


 

Salvador, 24 de novembro de 2020.

sexta-feira, 7 de novembro de 2025

Ironia ou faceta



 






(Negra Luz)




Não há surpresa!


O homem agoniza o que a sua mãe vem agonizando...


Falta-se oxigênio no Pulmão do Mundo.


O povo amazonense é mais um filho deste Pulmão.


Agoniza o que já é agonia para Amazônia: 


Nas matas, o fogo, a seca, levou fauna, levou flora, secou córrego, obriga indígena a sair do seu lugar.


Há fotografias dessa triste realidade,


Que muitos querem camuflar.


Gasta-se milhões para encomendar novo satélite,


Economiza-se com a fiscalização. 


Paradoxos ou faces da mesma moeda...


Uma alimentada pela outra.


Agora é a vida humana que está a agonizar...


Exaurimento de um crime complexo,


Anunciado por cada metro quadrado de mata que foi...


Vidas seguem arfando pelo Oxigênio 


O povo caboclo importa!


Mas são parte de um ecossistema maior: Amazônia. 


E ela é Brasil! 


E ela é Mundo!


E ela é nosso Pulmão!


E nela o nosso Oxigênio!

quinta-feira, 6 de novembro de 2025

Fake News na Pandemia



 


Rodolfo Pamplona Filho



A Internet

deu voz

a quem não tem

o que dizer

e que acaba

dizendo

o que não consegue esconder:

a sua própria raiva,

ódio e ignorância,

misturados com a insegurança

de simplesmente

antipatizar

quem virou alvo

do seu difamar,

como se seu mal querer

pudesse justificar

ou verdade tornar

o fel que escorre

no íntimo do seu ser.



Salvador, 25 de julho de 2020

quarta-feira, 5 de novembro de 2025

Exército de Jorge

 

 





(Negra Luz)


Uma moça me avisou

Que da Lua viria um aviso.

Eu, descrente, disse:

Para com isso!

Daqui a pouco dirão:

São Jorge aportará aqui!

Eu sorri.

Desdenhei da moça.

E, quando a Lua enquadrou com força,

Eu supliquei,

Eu orei!

Acredite. É verdade!

Um exército se mostrou realidade,

Prestou continência para mim.

Aliou-se na minha luta,

Veio para o meu fronte, 

Cuidou de mim!

E, com lágrimas, perguntei:

Quem era o líder?

Todos responderam: 

Salve, Jorge! Salve, Jorge!

E eu, com lágrimas, 

Mandei um bom pensamento para a tal moça,

Desculpei-me

E a São Jorge agradeci!

terça-feira, 4 de novembro de 2025

Lidando com Idiotas



 


Rodolfo Pamplona Filho




Não é fácil lidar com idiotas:

conviver com quem já se sabe

o que vai falar

ou como vai se comportar...

Aquele tipo de gente

que incomoda pela presença,

pelo tom ou pelo assunto,

mas que insiste em estar junto,

apresentando sua opinião

como se fosse uma dúvida legítima

ou um exercício de um ponto de vista,

e não uma mera reprodução

de um chavão ou bordão,

repetido à exaustão,

no grupo de WhatsApp da ocasião.

Para eles, o ódio

está sempre à mostra,

a concordância a si

é sempre imposta

e, para sobreviver,

somente há uma proposta:

para idiotas, o silêncio

é sempre a melhor resposta.


 


Praia do Forte, 29 de dezembro de 2020.

segunda-feira, 3 de novembro de 2025

Desclassificando as cores

 

 








(Negra Luz)




Quis ser primária,


E secundária também fui.


Quis estar no topo.


E fui a mais TOP.


Como fui!


O sol vibrante.


O fogo Ardente.


E um mar de amor


Mais ao poente,


Presenteei-me de ametiste


E, ao jequitibá, avistei a luz.


Eram secundárias as cores ali presentes 


E a beleza...


Tão maior!


Tão igual!


E, num instante angelical,


As cores não tinham classe.


Tinham valor igual.