quarta-feira, 6 de agosto de 2025

São João na Pandemia

 







Rodolfo Pamplona Filho



Festa junina na pandemia

é diferente do São João

quando os dias da gente

eram apenas “normais”


Os amigos e as famílias,

como antes, não estão

presencialmente

ao lado e juntos mais


Se não dá mais para abraçar,

isso não quer dizer

que a vontade de cantar

tenha que desaparecer


Se não dá mais para beijar,

isso não quer dizer

que a ausência do tocar

anule o desejo de viver


Hoje, pode não ter dança

ou mesmo um brinde com quentão,

mas sempre terá a esperança

que aquece o coração


de que, se não abraçados

fisicamente,

continuaremos ligados

espiritualmente,


e isso renova a alegria

e o desejo por dias melhores,

que é o combustível da folia

e a ordem para que não chores


pois, na nossa folia,

pode até faltar licor,

mas, nunca na vida,

faltará o amor.


Salvador, 24 de junho de 2020.

terça-feira, 5 de agosto de 2025

Not a dreamer anymore





(Negra Luz)


Não mais uma sonhadora.

Só uma sobrevivente,seguindo adiante.

Como Moisés, vou atravessando meus mares.

Haveria uma outra terra prometida?

Receberia o maná da Igualdade?

Um mundo cujos sobreviventes sejam para além dos humanos?


A humanidade, que aí está, falhou.

Se sangra, sangra e ver sangrar.

Tudo com o mesmo sentir.

Ligamos o módulo: Não tem jeito! Melhor nem ver! Que posso fazer? Eu sei o que é isso!

Tudo igual! 

Um mesma frequência!

Uma mesma sintonia! 

Agonia.

Dor.

Tudo conforme!


Inconformo, não depositando moedas nas fontes dos desejos.

Sigo apenas

Silente,

Tento não sintonizar as rádios que mitigam um Mundo de dor.


Minha frequência está aí 

Nas feridas da Mulher,

Na dor dos Pretos,

Na fome,

Nos hospitais ,

Nos esquecimentos.

Ondas longas, em curtas memórias,

Encapsularam os sonhos dessa vida aqui.



segunda-feira, 4 de agosto de 2025

A raiva é a minha kryptonita

 




Rodolfo Pamplona Filho



Sou calmo e manso

como Bruce Banner

Sou gentil e educado

como Clark Kent

Mas não há super poder

que não tenha

a sua fatal antípoda

e, de todos os sentimentos,

a raiva é minha kryptonita.


Salvador, 28 de abril de 2020.

domingo, 3 de agosto de 2025

Sim, tudo.







(Negra Luz)



Tudo estalo.

Tudo audiência.

Tudo click.

Tudo emoji.

Tudo Bauman.

Tudo calefação.

Tudo João!

Tudo George!

Tudo Miguel!

Tudo triste.

Tudo “migué”.

Tudo RACISMO.




sábado, 2 de agosto de 2025

Alegria




Rodolfo Pamplona Filho


Alegria nunca é demais:

Não há limites para sorrir!

Quem poupa alegria

despreza a energia

e a esperança de ser feliz.


Salvador, 11 de fevereiro de 2020

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

AMARGO PRESENTE-PASSADO

 






A caravela ancorova em outras terras

O bramido da revolta ecoava pelo verde intocado

Os sonidos das correntes esmorecia o belicoso  

Os irados resvalavam sobre os traidores

Os olhares fixos teciam uma despedida

Suas almas saudosistas, mortas sobre o azul pairavam

O mar se quebrava em dois

Gritam os porões para a imensidão

Bramidos de guerra que se enfraqueciam 

- Vermelho de dor, toma de  trevas este azul atlântico!

"Mãe gentil", verde de resquícios amarelos

Tu que recepciona os acorrentados

Por que traístes aqueles que por ti foram adotados?

Sangue escorre pelos que lutam

Fazem fronte os revoltados

"Liberdade, liberdade!" Onde ficas para que ti alcancem?

A dança e cantos guardam a saudade do passado

A força esbraveja dentro dos que tem esperança

Até que eis os enlaces estraçalhados

Livres estão os que foram escravizados

Mas contemporaneidade  que os abarca, onde estão teus direitos?

És tu uma farça moralista? 

Sociedade, por que encarcera os livres?

Por que matas os que lutam por ti?

Por que negas carinho para os que querem amor?

Respeito para os que do alto exigem

Prisão para aqueles que embaixo vivem

Por que essa regra de tamanha estranheza?

Persistentes estigmas perversos aprisionam os iguais.

Tristes desses que lançam para longe benéficos ideais. 

"Igualdade, igualdade" onde ficas para que ti alcancem?



PAULO HENRIQUE NOVAIS SANTOS

quinta-feira, 31 de julho de 2025

“Cidadão não. Engenheiro civil, formado. Melhor do que você"




Rodolfo Pamplona Filho


“Cidadão não.”

Desde quando

a profissão

é melhor

do que a satisfação

de ser tratado

com a dignidade

de ser parte da cidade?


“Engenheiro civil, formado.”

Desde quando

alguém pode ostentar

uma qualificação

sem ter sequer

a sua graduação?


“Melhor do que você"

Desde quando

a obtenção

de uma formação

torna um ser humano

melhor do que outro?


Tempos difíceis

em que os preconceitos

saíram das mentes abjetas

para se tornar parte

de algumas metas....


Tempos complicados

em que a discriminação

soa como ostentação

de desprezar a simpatia,

ignorar a empatia,

desconhecer a alteridade

e rir da solidariedade.


Salvador, 05 de julho de 2020, uma segunda-feira de perplexidade...

quarta-feira, 30 de julho de 2025

Vazio de amor




 (Negra Luz)



A gaveta após a transferência

A catedral em geladeira

A lixeira depois das 10

A primeira faxina na casa

Vazios


As férias escolares

O cinema desativado

O picadeiro sem palhaços

O tablado antes do primeiro ato

Tudo vazios


A vida que não vingou

O corpo que se violentou

O coração depois de uma grande dor

As ruas quando o Mundo se isolou

O Tempo em que não se amou

Profundos vazios


Acomodar-se com o que está desenhado

As estrofes descrevem os espaços

Lacunas que tenho negado

E mesmo ouvindo almas ao meu lado

O silêncio me chama ao vazio:

Um imenso vazio de amor.

terça-feira, 29 de julho de 2025

Alento

 



Rodolfo Pamplona Filho



A sensação de dever cumprido

A lembrança de um amor vivido

A esperança de um futuro melhor

A certeza de que não sonho só

Tudo isso vai me dar um alento

neste dia turbulento


Salvador, 02 de junho de 2020.

segunda-feira, 28 de julho de 2025

O SILÊNCIO DA POESIA

 






Marco Mendes


Silencia o espírito,

nenhuma batida o coração.

Estarei morto ou pensativo?

Onde estão as emoções?

Frustrado o poeta se afoga,

no mar da desilusão.

Na escuridão do fundo,

nenhum lume, só solidão.

Teste, teste, teste...

a verdade é inconteste.

Enquanto a poesia dorme,

o poeta está sofrendo.

domingo, 27 de julho de 2025

Alteridade





Rodolfo Pamplona Filho



O segredo da real felicidade

é conhecer a dor do outro

e, com isso, vibrar com seus triunfos

e ser solidário com suas derrotas.

Viver em desertos particulares

é a fórmula mais fácil

para ser infeliz

no gozo solitário

de seu prazer íntimo,

que desconhece que

a maior sedução existente

é o intercurso de almas...


Salvador, 29 de janeiro de 2020.

sábado, 26 de julho de 2025

Santa Sabedoria

 




Rogério Medeiros


Santo Antônio, ou

Santo Antoninho,

Como lhe chamam

Os portugueses

Em Lisboa,

Terra natal.


Santo Antônio,

Discípulo de São Francisco,

O santo da fraternidade

E da natureza.


Santo Antônio,

O milagreiro

E pregador.

A mostrar que

Também a sabedoria,

É uma forma de santidade.


Santo Antônio lisboeta,

Lembrai de nós brasileiros,

Dos tantos Antônios que temos,

Por aqui e além-mar.



E traga sua sabedoria,

Para aplacar a discórdia,

Que ameaça nos liquidar.

Amém.



Feliz 13 de junho.


sexta-feira, 25 de julho de 2025

Anne

 





Rodolfo Pamplona Filho


Um perfeito cemitério

de esperanças enterradas,

perdidas como

Grandes palavras

(que) são necessárias

para expressar grandes ideias

Você jura ser minha amiga

para todo o sempre?

Dormir numa árvore

à luz da lua

é a compensação pela

ansiedade dolorida

da esperança em vão.


Salvador, 19 de junho de 2020.

quinta-feira, 24 de julho de 2025

Depois, O Arco-íris

 




Negra Luz




Tempestades que me cercam

Ecoam maiores do que são.

Ouço como tambores rufando,

Apenas cânticos de libertação.


Visões de ondas gigantes,

Devastando o meu coração,

Só gotas de orvalho ao pé do ouvido,

Tilintar da minha emoção.


O farol girando sem rumo,

Sem apontar para onde devo ir.

Nada demais, só sinais.

Cada passo indica para onde se deve ir.


Há lama na estrada,

Fios em curto a atravessar.

Quando no meio do caminho há pedras,

Pare, pense e se encontrará.


Os raios que balançam,

Embalam a sua razão,

Aguçam os seus medos retidos,

Mas iluminam a sua ação.


Depois da tempestade

Alastrada dentro de ti,

Sentirá o arco-íris,

Espectro de vida, nascentes brotando em ti.



quarta-feira, 23 de julho de 2025

Arraia no ar não tem dono





Rodolfo Pamplona Filho


Arraia no ar

não tem dono:

é de quem primeiro pegar

e sair soltando!

Como uma oportunidade que surge,

como um amor que nasce,

como uma ideia a desenvolver,

como um poema a recitar...


Arraia no ar

não tem dono:

é de quem primeiro pegar

e sair soltando!


Salvador, 02 de fevereiro de 2020.

terça-feira, 22 de julho de 2025

Memórias da minha tradição

 





Negra Luz




A flores em crepom na mesa.

No teto, as bandeirolas.

No xote, chamegos.

No xaxado, estórias.

Baião ou sertanejo.

Quentão mandingueiro.

O povo da roça saindo à chita,

Dançando quadrilha em busca de glória.

Na mesa, a fartura:

Canjica, milho cozido,

Bolo de carimã e de aipim.

Amendoim,nem te conto, farinha para mim.

Sou nordestina.

Junina de coração.

Os fogos, que em mim acendem,

Formam fogueiras de emoção.

Giro o Mundo, nada esqueço.

Essa a minha tradição.

Era janeiro!

Era verão!

O sol altaneiro!

Tudo memórias!

Tudo saudade de meu São João!

segunda-feira, 21 de julho de 2025

Ciência e Consciência





Rodolfo Pamplona Filho




Uma coisa é a ciência,

outra é a consciência.

A primeira tenta explicar pergunta

A segunda já afirma respondendo

Uma decorre de consenso

Outra do próprio senso

Uma é absolutamente infinita

Outra abrange todo o espaço disponível

Mas tudo que quer a ciência

é, um dia, virar consciência

na mente de quem não lutou por ela.


Salvador, 05 de fevereiro de 2020.

domingo, 20 de julho de 2025

O fim e a glória





Rogério Medeiros




Fim de mandato.

Não foi fácil

Presidir um tribunal eleitoral.


Muitas aflições.

Pandemia do coronavírus,

A pior delas.


Problemas internos,

Pressões externas.

O poder é sempre solitário.


Decidir, eis o desafio.

Coragem e integridade,

Sempre.


Já dizia Einstein:

Uma hora namorando,

Parece um minuto;

Um minuto,

Sentado sobre um formigueiro,

Parece uma hora...


Fiquei durante um ano

Sentado sobre um formigueiro.

Pareceu-me uma eternidade.


Fiz o que pude e

Creio que fiz bem.

Não fui perfeito, ninguém é.


Agora, recordo Tom Jobim e

Vou viver a derradeira glória do ser humano:

Andar nas ruas,

Como um ilustre desconhecido.



sábado, 19 de julho de 2025

Consulta

 




Rodolfo Pamplona Filho


Consultar é uma atitude sofisticada

em uma relação a dois

Por vezes, a ação mais delicada

é dar nome aos bois.

Perguntar e esperar a resposta

é a prova definitiva

de que a opinião alheia Importa

e que o que se vai fazer

não é fruto de um só querer,

mas resultado de um conviver.


Salvador, 09 de abril de 2020.

sexta-feira, 18 de julho de 2025

Fui Eu

 









Fui eu esse menino que me espia

– melancólico olhar, sereno rosto,

postura fixa e o todo bem composto –

no retrato que o tempo desafia.


Fui eu na minha infância fugidia

de prazeres ingênuos, e o desgosto

de sentir tão efêmera a alegria

bem depressa mudada em seu oposto.


Fui eu, sim; mas o tempo que perpassa

e tudo altera nem sequer deixou

um grão de infância feito esmola escassa.


Fui eu; e da figura só ficou

o olhar desenganado na fumaça

em que a criança inteira se mudou.


abril 1998


(De Sentimento da Morte – 2003)


Poema de Fernando Py (1935-2020)